quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Breve História da Gospel music

Breve História da Gospel Music

Muitas pessoas hoje consomem, analisam e estudam Black Music... Mas afinal, de onde veio tudo isso? África, Europa, Brasil?
O que é ao certo Black Music?
De onde vieram as batidas, a melodia e a harmonia?
Pois bem... Para começar bem é necessário o mínimo de conhecimento em história Geral...
Tudo se inicia biblicamente em Gênesis capitulo quatro versículo21
E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão.

A primeira menção de música na Bíblia fala de Jubal, pais de todos os harpistas e organistas...
Daí em diante, a música se desenvolve por caminhos próprios por entre os povos da Mesopotâmia...
Duas características que me chamam a atenção nesse estilo de Música são:
Os portamentos e a Appogiatura
Portamento:
Tem a ver com o “legato” na sua continuidade, mas em vez de se ligarem os sons mantendo a sua individualidade, deixa-se que a freqüência “escorregue”, se arraste, numa gradação infinitesimal até a nova freqüência. A denominação vem do italiano “portare”:
Os portamentos são normalmente conhecidos como Melismas:
Melisma em música é a técnica de alterar a nota (sensação de freqüência) de uma sílaba de um texto enquanto ela está a ser cantada. A música cantada neste estilo é dita melismática, ao contrário de silábica, em que cada sílaba de texto corresponde a única nota. A música das culturas antigas usavam técnicas melismáticas para atingir um estado hipnótico no ouvinte, útil para ritos místicos de iniciação (Mistérios Eleusinianos) e cultos religiosos. Esta qualidade ainda é encontrada na música contemporânea hindu e muçulmana. Na música ocidental, o termo refere-se mais comumente ao Canto gregoriano, mas pode ser usado para descrever a música de qualquer gênero, incluindo o canto barroco e mais tarde o gospel. Atualmente o Melisma é usado na música popular do Oriente Médio. O Melisma também é comumente apresentado na música popular ocidental, que tem sido fortemente influenciada pelas técnicas vocais e musicais afro-americanas.
Apogiatura é uma pequena nota escrita antes da outra (nota principal) e cuja execução é feita à custa do tempo da nota principal ao qual está ligada.
Interessante Não é? ...
A música antiga quase sempre está ligada a atos religiosos ou de festa.
Algo tão oriental, comum aos muçulmanos hoje é executada pelos Norte americanos...
E onde entra a África na história?
Na verdade, cantar em Melismas é uma característica muito mais oriental do que africana...
Cantar com melismas e appogiaturas, significa expressar-se de forma diferente a cada nova interpretação. Dificilmente um judeu conseguirá cantar a mesma música da mesma forma duas vezes, pois em cada uma, o sentimento da interpretação será transmitido em técnicas como o melisma e a Apogiatura.
Isso é Gospel Music?
Na verdade, definir Gospel (do inglês God –Deus Spell- palavra) Music, é definir todos os estilos de música cristã...
O Gospel que estamos procurando é algo mais profundo...
Quando Roma decretou o Cristianismo como religião tolerada pelo Império, vemos o Estado manipulando toda a forma de expressão religiosa.
De repente, vemos o ocidente agora usando uma mistura de cultura Ocidental e Oriental:
O Canto gregoriano
O Canto Gregoriano é um gênero de música vocal monofônica, monódica (só uma melodia), não acompanhada, ou acompanhada apenas pela repetição da voz principal com oorganum, com o ritmo livre e não medido, utilizada pelo ritual da liturgia católica romana, a idéia central do cantochão ocidental.
As características foram herdadas dos salmos judaicos, assim como dos modos (ou escalas, mais modernamente) gregos, que no século VI foram selecionados e adaptados por Gregório Magno para serem utilizados nas celebrações religiosas da Igreja Católica.
Somente este tipo de prática musical podia ser utilizada na liturgia ou outros ofícios católicos. Só nos finais da Idade Média é que a polifonia (harmonia obtida com mais de uma linha melódica em contraponto) começa a ser introduzida nos ofícios da cristandade de então, e a coexistir com a prática do canto gregoriano.
Entendemos então, a primeira Gospel Music adotada no mundo Ocidental cristão.
Dentro desse contexto, inúmeros compositores, criaram excelentes canções ao estilo Erudito cristão, o berço dos nossos mais belos hinos, hoje descritos nos hinários das diversas denominações ao redor do mundo. O próprio Martinho Lutero, um dos autores da Reforma Protestante arriscou escrever a bela canção Mighty Fortress is Our God (Castelo Forte é nosso Deus).
No século XVIII, Charles Wesley (irmão do avivalista John Wesley) escreveu mais de 6000 hinos.
Estamos chegando ao ponto crucial dessa história.
Vale a pena ressaltar, que, enquanto o mundo Ocidental sofre a influência de Roma, Espanha, França e Portugal, o Oriente Médio fita os olhos na África.
No Século X, missionários islâmicos, já fechavam relações comerciais com diversos países africanos, ensinando-os também o islão, e suas práticas religiosas, inclusive o canto.
Quando, ocorre a Expansão Marítima Européia no século XV, os navegadores encontram um povo “primitivo” fácil de explorar e lucrativo em suas terras.
Esse povo negro “primitivo” acaba sendo escravizado e mandado para a América recém-descoberta.
Negros ao chegarem aqui, não eram pessoas, eram apenas mão de obra barata e lucrativa. Não se levava em conta cultura,ideais nem tampouco religião, ignorando totalmente a natureza humana da raça negra em meados do século XV e XVI.
As grandes potências exploravam a África e tudo que nela havia.
Com a conferência de Berlim em 1884 dá pra se ter uma idéia da divisão da África entre as potências européias.
O Congresso de Berlim realizado entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de fevereiro de1885 teve como objetivo organizar, na forma de regras, a ocupação de África pelas potências coloniais e resultou numa divisão que não respeitou, nem a história, nem as relações étnicas e mesmo familiares dos povos do Continente.
No congresso, que foi proposto por Portugal e organizado pelo Chanceler Otto Von Bismarck da Alemanha — país anfitrião, que não possuía mais colônias na África, mas tinha esse desejo e viu-o satisfeito, passando a administrar o “Sudoeste Africano” (atual Namíbia) e o Tanganhica — participaram ainda a Grã-Bretanha, França, Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Estados Unidos da América, Suécia, Áustria-Hungria, Império Otomano.
Os Estados Unidos possuíram colônia na África; a Libéria, só que muito tarde, mas eram uma potência em ascensão e tinham passado recentemente por uma guerra civil(1861-1865) relacionada com a abolição da escravatura naquele país; a Grã-Bretanha tinha-a abolido no seu império em 1834. A Turquia também não possuía colônias em África, mas era o centro do Império Otomano, com interesses no norte de África. Os restantes países europeus que não foram “contemplados” na partilha de África, também eram potências comerciais ou industriais, com interesses indiretos naquele continente.
Num momento desta conferência, Portugal apresentou um projeto, o famoso Mapa cor-de-rosa, que consistia em ligar a Angola e Moçambique para haver uma comunicação entre as duas colônias, facilitando o comércio e o transporte de mercadorias. Sucedeu que, apesar de todos concordarem com o projeto, a Inglaterra, à margem do Tratado de Windsor, surpreendeu com a negação face ao projeto e fez um ultimato, conhecido como Ultimato britânico de 1890, ameaçando guerra se Portugal não acabasse com o projeto. Portugal, com medo de uma crise, não criou guerra com Inglaterra e todo o projeto foi-se abaixo.
Como resultado desta conferência, a Grã-Bretanha passou a administrar toda a África Austral, com exceção das colônias portuguesas de Angola e Moçambique e o Sudoeste Africano, toda a África Oriental, com exceção do Tanganhica e partilhou a costa ocidental e o norte com a França, a Espanha e Portugal (Guiné-Bissau e Cabo Verde); o Congo – que estava no centro da disputa, o próprio nome da Conferência em alemão é “Conferência do Congo” – continuou como “propriedade” da Associação Internacional do Congo, cujo principal acionista era o rei Leopoldo II da Bélgica; este país passou ainda a administrar os pequenos reinos das montanhas a leste, o Ruanda e o Burundi
Mapa de África Colonial em 1913.



Perceba a divisão da África em 1913.
Dá pra perceber os países explorados por cada potência Européia.
Essa exploração deu origem a três grandes movimentos culturais na América.
As tribos que eram trazidas para a América deixaram seu legado na música de quase todos os países americanos, mas Em especial:
O Samba no Brasil
Os ritmos caribenhos, (Salsa) na América Central
O Blues e o Gospel nos Estados Unidos.

Cada um desses estilos musicais tem características em especial que os diferem uns dos outros, mas são fortemente marca dos pelo ritmo diferenciado mais swingado e livre em relação a música erudita européia.

Os escravos, chegavam das mais diversas partes da África,especialmente de três áreas: Uma grande área costeira, que ocupa parte do Senegal, Guiné, Costa do Marfim, que era totalmente dominada pelo islamismo. Havia nessa área uma cultura musical bem melódica, muitos melismas e o uso de alguns instrumentos de corda.
Outra área abrangia onde hoje é a Nigéria e parte dos países costeiros, inclusive Gana.
Essa região trouxe uma cultura bem percussiva com ritmos bem alterados.
A terceira região era parte da Angola, (o Congo), de onde vem a herança dos corais polifônicos, separados em grupo vocal e solistas.
Cada música na cultura africana tinha um significado especial (festas, cerimônias,), tanto no conjunto, na sociedade, como para cada indivíduo. Uma das formas mais importantes eram os Ritmos. O uso da percussão era também uma forma de comunicação entre os vilarejos, e usado nas celebrações.
Esse conjunto de características eram a base para a criação de coro e acompanhamento, conceito de cantor solista com estilo bem carismático, dançante e empolgante que constituíram a base da Gospel Music.
Outra característica marcante era a interação entre o solista e o grupo, onde haviam idéias de pergunta e resposta e a liberdade de apoio ou comentários vindos da audiência
A maioria dos escravos chegaram para trabalhar nas lavouras do centro-sul dos Estados Unidos, e as únicas heranças culturais que podiam ter era a música..

Ao chegar aos Estados Unidos, em contrapartida com outros países americanos os negros foram “evangelizados”, ao estilo protestante inglês de ser. Acredito que muitos deles aprenderam as músicas de Charles Wesley e outros grandes compositores cristãos da época.
Uma das músicas mais lindas do hinário em minha opinião (Amazing Grace) foi escrita por um compositor de nome John Newton (1725-1807).
John Newton era traficante de escravos e converteu- se, tornando se compositor de hinos religiosos.
Para compor a célebre canção Amazing Grace, a história conta que John ouviu o clamor de um escravo no fundo do convés em uma melodia totalmente nova e emocionante. Se você procurar pela composição, vai encontrar:
Amazing Grace
Letra: John Newton
Melodia: Autor Desconhecido
A partir desses eventos, começamos a encontrar um estilo de música que nasce do eruditismo cristão dos séculos XVII, XVII e XIX com a influência Oriental e africana que acaba sendo evangelizada na nova América.
Nasce então o Negro Spiritual.

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